29 fevereiro 2024

VOCÊ NÃO TEM RAZÃO

 

VOCÊ NÃO TEM RAZÃO

Quando reli a última crônica que aqui deixei, pedi desculpa aos meus incautos leitores. Comecei a falar de mim mesmo e de minhas mazelas, completando com o que gostava e não gostava. Mortificado, percebi que eu havia escrito um pedido de “extrema-unção”,

Não era verdade que eu não gostava de política.  No ano de 1964, eu vinha de Montes Claros, Minas Gerais, onde estava trabalhando no projeto de uma fábrica de tecidos. Eu desembarquei no Aeroporto Santos Dumont e tomei um taxi que me levaria até ao Centro, mais exatamente, à Pensão da Dona Maninha. Daí eu tomaria outro avião para o Recife, onde tinha a residência.  O taxi começou a dar voltas desnorteadas, parecia perdido. Perguntei ao motorista o que estava acontecendo. “É o Comício da Central.  O Presidente da República está falando.” Pedi ao motorista que me deixasse o mais próximo possível do palanque. O Presidente João Goulart discursava:

“O Imperialismo americano está acabando com o nosso país. São eles que mandam aqui. A remessa de lucros etc., etc., etc. Fiquei até o fim do comício.  E disse comigo mesmo:  “Isso vai dar merda.” Voltei para Recife. Estávamos no começo do mês de março. Eu trabalhava na Sudene, cuidando do Programa de Reaparelhamento da Indústria Textil.  Os dias se passaram. Foi quando ouvi um boato que dizia: “Um certo General Mourão encontra-se aquartelado com suas tropas em Juiz de Fora, pronto para descer e ocupar o Palácio do Catete.” Comentei isso com meus colegas de trabalho. Todos caíram na risada.  No dia 31 de março, eu estava no meu escritório quando ouvi um barulho de motores. Fui olhar pela janela e vi o Palácio das Princesas cercado por tanques armados. No mesmo instante chegava a informação de que a porta do edifício da Sudene estava bloqueada por soldados. Ninguém podia sair. Mas podia entrar.

Ato contínuo, foi indicado o General que assumiria a Superintendência da Sudene. Antes, porém, o Ministro Celso Furtado foi convidado pela Junta Militar a permanecer no cargo. Ele agradeceu, mas disse que iria para os Estados Unidos e assumiria uma cátedra numa Universidade local. Na Sudene, eu retomei meu trabalho tranquilamente. Uma semana depois, li no jornal uma entrevista concedida pelo General Superintendente: “Quando assumi, me disseram que eu iria encontrar um antro de comunistas fanáticos. Não foi isso que encontrei. Só encontrei gente competente, trabalhando com esforço para o desenvolvimento d região.”

18 fevereiro 2024

VOCÊ TEM RAZÃO

 

VOCÊ TEM RAZÃO

Chegado à idade provecta, depois de aprender uma profissão, casar-me, ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro, como mandava o catecismo que me ensinaram quando eu era adolescente. Foi aí que cheguei à conclusão que a melhor coisa do mundo é ficar calado. “Grande coisa, dirão todos”.  Sim, porque quando visito as redes sociais vejo que uma verborreia incontrolável que se espalha e entope todos os meios de comunicação.

Trabalhei muito na vida. Aos 18 anos me formei como Torneiro Mecânico pela Escola Técnica do Recife. Minha primeira profissão. Depois descambei para a Indústria Têxtil e passei a dirigir fábricas, elaborar projetos e ensinar tecnologia têxtil, tanto no Brasil como no exterior.

Mas não vim aqui falar do meu passado e sim do meu presente; das mazelas que me atormentam o corpo e alma.  Eram previsíveis e chegaram de surpresa. “Como é?” Se eram previsíveis só podiam chegar, de surpresa ou não. Você está usando uma tautologia, meu amigo, e é disso tudo que estou querendo fugir.

Você tem razão.  É tudo o que me resta para continuar cogitando. Não vou para as ruas fazer manifestações. Não quero saber de política. Ignoro discursos laudatórios, conselhos confortadores e alertas sobre o futuro que virá.

 Lembro-me daquela história em quadrinhos – eu sou daquele tempo  -  em que o Charlie Brown e o Snoopy  estão sentados, um de costas para o outro. Diz o Charlie: Você sabe Snoopy, um dia nos vamos morrer. Sim, disse o Snoopy. Um dia.  Mas todos os outros, não.

Fico por aqui. Vou viver os anos que me restam. E que serão bem vividos. Porque terei comigo minha esposa e o resto da minha família. Terei meus amigos. E tenho uma alma que mergulhará no Espaço Sideral que eterno dura, onde encontrará vida mais pura.

 

 

10 fevereiro 2024

CARNAVAL, EU TE SUPLICO

 

CARNAVAL,  EU TE SUPLICO

 

 

Tu que entraste na minha vida sem ter sido chamado. Tu que vieste perturbar a minha paz e o meu sustento. Tu que zombas do meu dia e da minha lida.

 

Suspende agora teus desvarios e dedica-me um minuto de atenção. Rendo-me aos teus encantos, abraço-te amorosamente e te suplico.

 

Ajuda-me a atravessar teus dias incólume, isento de culpas e de remorsos.

 

Porque quero fugir do quotidiano, quero esquecer as mágoas que me perseguem, quero alimentar esperanças, sonhar novos amores, viver vidas já vividas.

 

Quero recuperar saudades e chorar novamente o pranto do desespero.

 

Quero reparar os males que fiz, as dores que causei, as traições que cometi.

 

Quero mergulhar na voragem do prazer, quero perder-me na volúpia dos sentidos.

 

Quero embriagar-me com o veneno que circula por teus becos e vielas. Quero fecundar as flores que desabrocham ao som dos teus tamborins.

 

Quero amar a plebe rude que salta e canta com teus ritmos. Quero amalgamar o meu suor com o suor das tuas deusas.

 

Quero afogar em lágrimas o palco das esperanças que um dia me abandonaram, sem deixar rastros.

 

Quero dormir em campo aberto, absorver o brilho das estrelas, despertar coberto de orvalho, ofuscar-me com a luz da alvorada.

 

Quero encontrar em minha amada a alegria dos teus folguedos, quero sentir o calor que do seu peito estua, sorver de seus lábios a seiva do feitiço.

 

Quero aplacar em seus braços a dor que me consome.

Quero arder no fogo-fátuo que emana dos cadáveres insepultos das minhas memórias.

 

Quero ser Carnaval.

19 dezembro 2023

QUE MUNDO É ESSE 1

 

QUE MUNDO É ESSE !

 

Acordo cedo e sento-me no terraço para contemplar o sol de Primavera que ilumina e aquece as majestosas árvores que buscam o céu.

Os colibris saltitam no espaço bicando as gotas de orvalho depositadas na superfície das folhas.  Os pardais volteiam, os sabiás cantam e as saíras alegram a paisagem com suas asas coloridas.

Crianças brincam na calçada numa folgança invejável.

 De nada mais preciso para ser feliz nesta “Mansão no Paraíso”, casa de 200 metros quadrados, onde moro, com minha família, no bairro do Mury, Nova Friburgo.  

No entanto, abro os jornais e me apavoro. Na capital do Estado, de onde venho, a vida tornou-se perigosa. Roubos, assaltos, brigas, acidentes de todo o tipo estão deixando o cidadão em pânico. As praias são o cenário preferido. Assaltos a turistas, arrastões de todo o tipo comprometem a imagem do país no exterior.

Se olho a televisão, o quadro é ainda mais aterrador. No Estado de São Paulo, até as rodovias sofrem assaltos.  Automóveis de passageiros, caminhões de transporte de carga, veículos bancários para entrega de valores, são interceptados ao longo da estrada. Às vezes a Polícia entra. E aí a matança é recíproca.

 No resto do mundo, a coisa é muito pior. A guerra na Ucrânia está longe de terminar.

No chamado  Oriente Médio países árabes estão vivendo um drama inimaginável, metidos numa guerra fratricida. Sob o comando de militares fardados, um grupo de fanáticos decidiu extinguir a raça dos Judeus.

Denominado “RAMAS” , os recursos desse grupo, tanto em armamentos como em território, são imensos. Segundo consta, o apoio financeiro vem do Iran e da Arábia Saudita.

Evidentemente, esse ataque provocou um revide por parte de Israel, que disparou seus canhões para se defender. E implantou-se a guerra.

Até onde cheguei, não vi quando poderá terminar. Nem precisa.  Guerras são devastadoras e não têm vencedor.

A que ponto chegou o ser humano. Não sei o que dizer, mas a solução está naquele velho refrão:

“PAREM O MUNDO, QUE EU QUERO DESCER”

16 dezembro 2023

VOU ME RENOVAR

 

VOU ME RENOVAR

 

 

 

PRECISO ME RENOVAR

Renovar ? Renovar como ?  Ainda não sei.  O que sei é que, chegado à vetusta idade, que nem sequer mereço  encontro-me com um emaranhado de ideias que fervem na cabeça, comprometendo a temperatura do resto do corpo.

Quando era menino, e com isto eu me refiro aos 12 anos, eu assistia à Missa na igreja do bairro onde morava, a Vila Maria, em São Paulo. Fervoroso católico, resolvi ler a história dos grandes convertidos: Thomas Merton, Santo Agostinho e outros.  Quando vi os argumentos que motivaram a sua conversão, eu me desconverti. E me declarei ateu.

 

Aos 14 anos, escrevi meu primeiro poema: “Poema Controverso”.

 

Se eu pudesse amar, amaria tudo

Mas amaria você sobretudo

Amaria as crianças que riam e os velhos que choram

O barulho das fábricas e o silêncio da noite

Os sapos no charco, as estrelas no céu

As gotas de orvalho nas folhas das rosas

E os raios de sol nas manhãs preguiçosas.

 

            E patati . . .  patata . . . os versos continuaram

           pipocando e fecharam :

Se eu pudesse amar, amaria, até mais não parar

O próprio Deus que me fez incapaz de amar

Neste ponto, eu resolvi amenizar as coisas. Retirei o ateu e me declarei agnóstico.

Mas a juventude não terminava aí. Naquela época os estudantes tinham uma associação na qual defendiam seus direitos político. Fazíamos reuniões, todos discutiam mas ninguém me deixava falar. Logo descobri que, com o nome de Spreafico e com a cara  de fogoió que me representava, eu devia ser de outro planeta.

Então comecei a ler Marx e Engels.

Entusiasmado com a teoria marxista da  “Mais Valia”, resolvi estudar melhor o Comunismo. Acompanhei como era a vida em Cuba. Cheguei a ler a revista Novos Rumos, que circulava na época. Um horror. Nesses tempos eu andava ocupado representando no Teatro do Parque, no Recife, a peça “A Pena e a Lei” do Ariano Suassuna. E foi o que me ajudou pois concluí que da Política eu devia ficar longe.

Hoje sou chamado de covarde, porque não vou para as ruas participar das manifestações, que nem sequer sei a quem vão esculachar. Credo Crucis.

Dentro do miolo mole que ainda me resta, comecei a refletir :Quem sou eu ?   O que estou fazendo nesta vida ?  Deve haver algo mais neste Universo Planetário que ocupamos.

Sem dúvida, existe : A Reencarnação. E comecei a ouvir a voz da consciência.  

Uma voz carinhosa me sussurrou : O Espiritismo está aqui ao teu lado. Mediuns e    assessores te ajudarão na caminhada.

É pra lá que eu vou.

 

 

 

 

 

05 dezembro 2023

DIVERTIMENTO - Partes 2 e 3

 

 

PARTE  2

 Logo chegaram as máquinas.  Tínhamos 3 galpões no prédio da Escola, cada um com 100 metros de comprimento: Fiação, Tecelagem e Acabamento.  

Saco Lowell, na Sala de Abertura. Teares Draper e Cromptom na Tecelagem. As máquinas sendo montadas com a ajuda dos alunos. Uma atividade frenética, marcada pelo cheiro do algodão cru, um verdadeiro afrodisíaco.

Nas horas vagas eu frequentava as oficinas, montava e desmontava máquinas fazendo um treinamento adicional.

Setenta e cinco anos se passaram. A Escola Técnica de Indústria Química e Têxtil cresceu, transformou-se em um Centro Tecnológico de grande repercussão, expandiu suas atividades para além de um simples processo de transformação de matérias primas, abrangendo novos segmentos da cadeia têxtil. Paralelamente, em 1962, criou-se a ABTT – Associação Brasileira de Técnicos Têxteis -  que congrega os profissionais têxteis e continua seu aperfeiçoamento através de Congressos, Seminários e Feiras, entre outras atividades e que desempenha hoje um papel importante na integração Universidade/Empresa.

 

PARTE 3

O DIVERTIMENTO

Por volta dos anos 50, eu aproveitei a oportunidade que me ofereceram para fazer teatro. Havia sido inaugurada em Fazenda Nova, Município de Brejo da Madre de Deus – PE, uma construção em pedra local, esculpida pelos matutos analfabetos, que reproduzia a cidade de Jerusalém com todas as edificações, ruas e enfeites. Na Semana Santa, era ali representada uma peça teatral denominada “A Paixão de Cristo”. O espetáculo durava três dias. Começava com a Santa Ceia, na Quinta-feira Santa e terminava com a Ressureição.

Eu fui convidado para fazer o papel do Longuinho – Longinus – o soldado romano que era cego. Na cena em que aparece o Cristo Crucificado,  Longuinho pede a um outro soldado presente que o ajude a espetar uma lança no coração de Jes’us. Ao fazê-lo, faz jorrar um jato de sangue sobre seus olhos. E ele percebe que recuperou a visão. Arrependido, ele começa a implorar perdão ao Senhor pelo mal que causou.

Fiz a cena com tanto entusiasmo e alvoroço que fui convidado para representar outras peças no Recife.

 

 

 

 

 

 

30 novembro 2023

TRABALHO E DIVERTIMENTO

 TRABALHO E DIVERTIMENTO

 

PARTE 1

 

Esta história começa bem longe no tempo. Era o ano de 1948. Aos 18 anos de idade, eu completava o Curso Técnico de Mecânica de Máquinas ministrado pela Escola Técnica do Recife,  uma Escola da rede federal, criada pelo Presidente Nilo Peçanha. Ficava no Derby, bem na beira do romântico Rio Capibaribe.

Entrei de férias e comecei a pensar no que iria fazer na vida.

 

Poucos dias depois, o Diretor da Escola, Manoel Viana de Vasconcellos mandou-me chamar e disse:

Fui informado que o Senai vai criar um curso de Tecnologia Têxtil. Será no Rio de Janeiro, o primeiro no Brasil e concorrerão alunos de todos os Estados. Para Pernambuco foram reservados 4 alunos. Eu indiquei você.

O curso é gratuito e a Escola dispõe de um Internato para acomodar os alunos de fora. Serão pagas as passagens de ida e volta, bem como as férias, tanto as de Julho como as de fim de ano. Você terá que fazer um exame de seleção pois só irá um dos 4 indicados. Apresente-se no Colégio dos Jesuíta, na Boa Vista, e faça a sua inscrição. Fiz e passei. E viajei para o Rio de Janeiro.

 

Com o entusiasmo e a exaltação de quem vai  fazer sua primeira  viagem interplanetária, embarquei num DC3 da Real Transportes Aéreos.  Depois de 8 horas de viagem entre Recife e o Rio de Janeiro, o avião desabou sobre a pista do antigo Galeão.

Minhas emoções apenas começavam. A Escola começou a definir-se.  O carro que me trouxe do Aeroporto depositou-me num casarão da rua Bela, em São Cristóvão. Ali ficaríamos até que  fosse efetuado novo exame de seleção. Os reprovados seriam devolvidos aos seus Estados.

Fiz o exame. Tirei o primeiro lugar. Meu número de matrícula foi 1.

Foram aprovados 32 candidatos. Formava-se, assim, a primeira turma da

ETIQT.

A Escola iniciava as aulas apenas com sua estrutura de concreto, poucas paredes e muitos andaimes. Não havia portas nem janelas. O piso era laje bruta. O barulho das betoneiras interrompia o professor que ora fitava o chão ora levantava o olhar para os céus esperando sua vez de falar.

 

O regime era duro: quatro horas de aulas teóricas pela manhã, quatro horas de aulas práticas à tarde e, à noite, estudo dirigido, obrigatório, de duas horas. Ao meio dia, o Alfredo, um garçom com cara de mordomo inglês, metido em uma espécie de fraque e gravata borboleta, servia o almoço.

 

O Diretor da Escola era o professor Mario Souto Lyra, formado pelo Instituto Lowell, da Carolina do Norte. Da mesma Escola, vinha o professor de Tecelagem, Horst Gaensli que também ocupava uma Diretoria na Fábrica Bangu. Não há como deixar de mencionar outros professores da época e o faço sabendo que vou omitir nomes importantes pois valho-me da memória: O professor Oldegar Vieira, de Português, introdutor do Hai kai no Brasil que fundou o Caetés – Centro Acadêmico dos Estudantes; Deolindo Dominguez Vicente, na Fiação, com seu sotaque espanhol;  Ivo Piccoli, professor de Física, criador do “suprassumo do extrato do graveto seco”; Manir Japor, de Matemática, com sua muleta e perna engessada que duraram seis meses; Henrique Mariani no Desenho Têxtil e suas gigantescas e sufocantes folhas de papel milimetrado;  Emil Kwaiser, com sotaque austríaco, ensinava Mecânica Aplicada, era também professor de balística na Escola Técnica do Exército;  o professor Rocha, de Inglês, irmão de Carlito Rocha, o famoso treinador do Botafogo;  Dom Gerardo, frade do Mosteiro de São Bento, no Rio, na Cadeira de História das Artes, nos ensinou a apreciar Giotto e Caravaggio.

 

 

 

 

19 novembro 2023

ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DE INDÚSTRIA QUÍMICA E TÊXTIL

 ESCOLA TEÉCNICA FEDERAL DE INDÚSTRIA QUÍMICA E TÊXTIL  -  ETIQT

 

Recebi, dias atrás, um convite dos meus colegas de escola, portanto técnicos têxteis como eu.     Com uma diferença, porém: entre a data da minha formatura – 1959 – até hoje, formaram-se 63 turmas de técnicos têxteis.

O convite me incentivava a participar do Primeiro Encontro de Técnicos Têxteis de ITAÚNA – MG. Seguiu-se um programa detalhado dos eventos  bem como os nomes dos que compunham a Comissão Organizadora.

O convite era assinado pelo Presidente da Comissão, colega Toninho Oliveira, o qual informava que a minha participação havia sido proposta pelo colega Ivo Jorge.

Não foi fácil conter a emoção que me envolveu  e como me sinto honrado e grato a todos. Estes amigos, nesta altura da minha vida, me renovam as forças para continuar trabalhando com as ferramentas que me restam. Posteriormente, veio a notícia de que seria gravada uma placa para perpetuar o evento e, dada a impossibilidade do meu deslocamento até Itaúna, a placa me seria entregue em Nova Friburgo, onde moro atualmente. Numa gentileza fora do comum, a Comissão Organizadora, capitaneada pelo colega Toninho Oliveira, e mais um grupo da ABTT, fiéis seguidores do colega Ivo Jorge, desembarcaram em Friburgo.

Escolheram um bucólico restaurante local, o Bistrô Primavera.   Aí, deu-se a grande festa, regada a detox, bebida criada pelo nosso Waumy em seu inesquecível “Imaculada Conceição”.

 

 

A Placa :

“Luigi  Spreafico

Nossa homenagem ao primeiro aluno matriculado na primeira turma do curso técnico têxtil na ETIQT , em reconhecimento aos brilhantes trabalhos  prestados a todo o ramo têxtil do Brasil.

Desde 1949, uma vida dedicada a uma paixão, “indústria têxtil”. Sonhos, lutas, realizações, uma carreira vitoriosa que deixa  um legado que orgulha  a todos nós, seus colegas técnicos têxteis e nossa querida escola.

ETIQT/1949 E CETIQT/1980

PRIMEIRO ENCONTRO DE TÉCNICOS TÊXTEIS EM ITAÚNA - MINAS GERAIS

Dias 25 e 26 de Agosto de 2023”

 

 

 

25 outubro 2023

ACONTECEU COMIGO

 ACONTECEU  -  SINCRONICIDADE

 

 

Mera coincidência : Eu não te disse que ia chover? Então, choveu ?

-- Sim, choveu. E eu me danei todo.

-- Está vendo ? Você não deu importância aos sinais.  Isso não é mera coincidência. É sincronicidade. Existe uma coisa muito ampla,   nisso que chamamos de firmamento, ou melhor, O Mundo Cósmico.

Tenho lido muito sobre sincronicidade. Os livros do DeepK Chopra explicam bem o fenômeno.

E um deles aconteceu comigo. Aqui cabe uma pequena introdução:

 

Aldenor era meu colega de trabalho quando eu estava preparando o Programa de Reaparelhamento da Indústria Têxtil, na SUDENE, no Recife.  Aldenor era Chefe do Departamento Jurídico do Banco do Nordeste, nosso coligado no Programa.

Figura original, Aldenor morava com três mulheres. Não tinha filhos. Uma era a própria esposa. A outra, irmã da esposa. A terceira, uma prima.

 Durante o trabalho, às vezes ele vinha ao Recife, outras eu ia a Fortaleza. Nestes casos, ele não permitia que eu ficasse em hotel. Ficava hospedado na casa dele e era sempre ele que me levava e trazia do Aeroporto. Numa dessa viagens ele diz à esposa:

-- Oh, Maria ! O Spreafico vai pro Aeroporto amanhã bem cedinho, Você levanta e, por favor prepara o café pra ele.

Interrompi imediatamente:

-- Não senhor. Não vou permitir que a Maria faça isso.  Ele insistiu, e insistiu tanto, que deu-me na telha fazer uma brincadeira:

-- Olha Aldenor: você não pode fazer isso. Sabe por que ? Porque  no caminho vai cair uma chuva, você vai furar o pneu do carro e ainda pode ser que, na volta, derrape na estrada lamacenta. Todos riram, a Maria levantou cedo, fez o café e partimos para o Aeroporto. Chegamos lá, o motorista encostou o carro próximo da calçada. Perto da entrada coloquei as malas no chão e ficamos nos despedindo.

Nesse momento, percebi que alguns pingos de água começaram a cair. Adverti: Estão vendo ? A chuva já começou. Agora só falta furar o pneu.

 

Ppffffffff . . . Mal pude acreditar. Olhei para o carro e vi pneu direito traseiro achatando-se no chão. Me ressoam até hoje as palavras  do motorista atônito :

 

Que boca  !!!

 

18 setembro 2023

O PRESIDENTE EVENTUAL

 Republicado em 19 Novembro 2017

 

O  PRESIDENTE  EVENTUAL

 

Estou transcrevendo o texto original, que havia abandonado por medo estar ofendendo nossos juízes togados. Muitas vezes, quando tentamos fazer humor acabamos por ser grosseiros e, pior, cometendo ofensas a quem não as merece. Principalmente quando tratamos de forma genérica um grupo ou uma instituição,  como é o caso presente.

Mas, depois de ler o que pensam vários dos meus “colegas cronistas” da imprensa escrita - desculpem a minha presunção - tomei coragem e mandei ver. Quem sabe assim eu consiga   receber, pelo menos, um mísero comentário neste humilde e abandonado blog. Ou, glória suprema, a visita do Japonês da Federal.

 

Sou totalmente ignorante em matéria de política. Bem que tentei, no meu tempo de estudante, meter-me nas discussões, participar de comícios, opinar sobre isto e aquilo. Cheguei a ler Marx e Engels. Nada deu certo. Não demorei a entender que, com a cara e o nome que eu carregava, ninguém me levava a sério. Então, limitei-me a cuidar das minhas tapiocas.

Isso não quer dizer que não me interessasse pelos destinos do meu país e do seu comandante maior: o Presidente. Houve uma época em que eu lia três jornais todos os dias.: O “Correio da Manhã”, “O Jornal” e o “Jornal do Brasil”.

 

Ora, se deu que, em 1954, o Presidente se suicidou. Comoção geral. O povo foi às ruas, não para quebrar coisas como é comum em nossos dias, mas para prantear o seu Presidente. O lugar foi ocupado pelo seu herdeiro natural mas depois, seguiu-se uma longa discussão sobre se isso era legítimo ou não. Discussão da qual eu nada entendi.

Sucederam-se vários presidentes, sempre com muita discussão e muita briga. Entre os últimos, creio que ainda estávamos no século passado, teve um que se mandou sem dizer água vai. Alegou que havia forças ocultas que não o deixavam trabalhar. No lugar dele entrou seu herdeiro, que deu muito trabalho porque muita gente não gostava dele. Até houve um plebiscito para saber se o povo queria que ele ficasse como pau mandado, mas o povo disse que não.

 

Ele era muito querido pela população e fez um comício que ficou na História, o famoso comício da Central. Eu assisti a esse comício, não porque me interessasse por política, obviamente, mas porque eu desembarcara no aeroporto do Galeão, vindo de Montes Claros, e o motorista do taxi me comunicou que o trânsito estava bloqueado perto da Central do Brasil, por causa do comício. Já que eu não podia chegar ao hotel, pedi ao motorista que me deixasse perto do comício. E lá fiquei eu, em pé, bem próximo ao palanque, ouvindo os discursos. Foram muitos discursos. Quando tudo acabou eu, leigo que sou, disse pra mim mesmo: “Isso não vai acabar bem”.

 

 Porque de repente chegou um pessoal saído dos quarteis, metralhadora na mão, dizendo : “agora quem escolhe presidente é a gente”. E assim foi por muitos anos. Quando eles se cansaram de escolher presidentes, entregaram o trono a um civil dizendo:  “daqui pra frente é com vocês”.

Aí, não sei bem como, foi escolhido um novo presidente. Então, aconteceu um novo infortúnio:  Antes mesmo de tomar posse esse presidente adoeceu e foi levado para um hospital. Foi empossado lá mesmo e, no dia seguinte, veio a falecer.

Foi substituído pelo seu eventual, um nordestino tranquilo, de bigode imponente, o qual, findo o mandato, passou o cargo para outro nordestino, eleito pelo povo. Este não era nada tranquilo, ao contrário, era brabo e saiu brigando com todo o mundo. Além de brabo, era meio tan-tan  pois saiu catando o dinheiro de todo o mundo com a promessa de que iria devolver tudo depois, e com lucro. Não sei se ele devolveu mesmo porque, no meu banco, eu só tinha boletos de contas  que eram pagas com o suor do meu rosto.

Disseram também que entre as patifarias que praticou, este jovem presidente havia recebido um regalo considerado muito suspeito: Uma Fiat Elba,  zero quilômetro.  Um vexame!

Então resolveram tirá-lo, e eu nem sei bem como isso foi feito, porque, nessa altura, eu já andava tão cansado que parei de ler jornais e fui cuidar do meu reumatismo.

 

E aí veio um período tranquilo em que os presidentes, todos eleitos pelo povo, passaram a trabalhar com grande empenho, embora nem todos agradassem a todo mundo, fosse quem fosse o presidente. Normal, porque isso é próprio do sistema democrático. Pelo menos foi isso que pensei porque eu, leigo total em política, andava cuidando apenas do meu laburo. Pois não é que, de novo, resolveram tirar o Presidente da vez? Acharam que este Presidente, mais exatamente, uma Presidenta, estava trabalhando mal e resolveram mandá-la embora. Isto, para muitos, foi considerado um golpe. O fato é que no seu lugar entrou o seu substituto eventual, tudo dentro da lei, segundo diziam os jornais, o que, obviamente, não correspondeu à opinião daqueles que o consideraram   golpista.  Pois agora, golpista ou não, estão dizendo que este é igualzinho ou pior do que anterior e, por isto, vão mandá-lo embora também. Até aí eu entendo. Mas ficou-me uma dúvida.

 

 Já expliquei que, em matéria de política, sou completamente leigo mas, que diabos, leigo também tem alma! Pois agora vou dar minha opinião de leigo e pouco me importa se me internarem num manicômio. Porque achei  esquisita  a  maneira como tudo isto está sendo feito.

Acontece que, fosse lá por que motivo fosse, atribuíram, esta tarefa a um dos Poderes da República: o Poder Judiciário. O Judiciário é formado por vários Tribunais, cada um identificado com uma sigla própria. Não sei se existe diferença hierárquica entre eles, tipo, um pai e muitos filhos, sendo o Tribunal filho um complemento do Tribunal pai, ao qual deve dar satisfação das maldades  que pratica, o que faria deste o Judiciário de verdade, a menos que o filho, quando menor, tenha sido emancipado pelo pai, não precisando, assim,  dar satisfações ao pai. Não importa, até aqui tudo bem, sabendo que o Tribunal filho que está no jogo é aquele que cuida das eleições.  

 

Tudo bem, mas nem tanto. Porque agora acabo de descobrir que os Juízes dos Tribunais, tanto o pai como o filho, são nomeados pelo Presidente da República, e a ele, é de se esperar, devem fidelidade. Podemos dizer que um juiz é um Juiz e que ele está acima dos interesses terrenos, portanto é imparcial. Ótimo. É assim que deve ser.

 

Mas aqui entra uma grande confusão. Alguns juízes pertencem simultaneamente a um Tribunal Filho e a um Tribunal Pai. Outros, só ao Pai. Tem mais: alguns juízes foram nomeados pelo presidente escorraçado, outros pelo presidente que chegou ao cargo por herança. Será difícil conseguir coerência nesse caleidoscópio de interesses. Prova disso são as suas reuniões longas e patéticas, enfeitadas por salamaleques e enriquecidas por elogios recíprocos, datas vênias, ipsis verbis, causa finita, ad perpetuam rei memoriam ... isto para não mencionar os floreios de linguagem jurídica, repetidos à exaustão para que se tornem válidos, nem os arroubos de histeria dignos de uma prima donna contrariada, para dominar o palco e comover os colegas e o público. Afinal os Juízes, ainda que cobertos pelo manto sagrado da toga, são seres humanos.

 

Alguma coisa está errada. No centro dessa discussão está a definição de quem é o autêntico presidente: se aquele que foi eleito pelo povo ou aquele que ocupa o posto por herança. Ou nenhum dos dois. E quem vai resolver isso são os Juízes indicados pelos Presidentes envolvidos. Ora, esses juízes não foram escolhidos pelo povo como acontece com os presidentes. Decididamente, alguma coisa está errada. É preciso inverter essa coisa: o povo é que deve escolher os juízes. E os juízes indicarão o presidente.

 

Com uma condição: os juízes removeriam aquele medonho manto fúnebre seriam reincorporados à espécie humana.    ABSIT  INJURIA  VERBIS.

 

Nota bene: Transcrevo o parágrafo introdutório do artigo publicado pelo mestre Nelson Mota no O Globo de 16 de Junho de 2017, na página dos editoriais:

“ Há juízes bons e maus, preparados e incompetentes, burros e inteligentes, honestos e desonestos, embora todos, ou quase, se considerem num patamar  acima do cidadão comum, pelo poder de decidir a vida e a morte de quem transgride  a lei.”