23 setembro 2011

A televisão é o ópio do povo

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 “A televisão é o ópio do povo”.  Não sei quando foi que Karl Marx disse isso, mas sei que foi há muito tempo porque a televisão nem havia sido inventada ainda. E ele estava certo porque a televisão, quero dizer, a religião,  está aí para provar isso. Pode ser que nem tudo o que  Marx disse tenha dado no seu tempo. Mas está dando certo hoje. A religião fortaleceu-se, expandiu-se e está dando  “filhotes”,  como acontece com as ações na bolsa de valores. Hoje, a Igreja Universal do Reino Divino  ganha mais dinheiro do que a matriz.  Em  outra coisa Marx também acertou, quando previu que o exacerbado consumismo do sistema capitalista levaria  a desordens sociais. E quem chama a atenção para isso, em nossos dias, é ninguém menos do que o sociólogo Zygmunt Bauman ao analisar os violentos  distúrbios ocorridos na outrora disciplinada cidade de Londres. Segundo noticiam os jornais, Bauman afirma  que  “as imagens de caos na capital britânica nada mais representam que uma revolta motivada pelo desejo de consumir, e não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social”  “ Londres viu os distúrbios do consumidor  excluído e insatisfeito” Aí está.

E a crise mundial?  Enésima  edição, revista e melhorada. Os países desenvolvidos se declaram falidos e dizem que não vão mais pagar  ninguém. E os subdesenvolvidos que se arrumem. Os cientistas dão explicações para isso, cada uma mais engraçada do que a outra. Mas ninguém explicou melhor essa enrascada do que o Severino Mandacaru, que sentiu na sua modesta plantação de macaxeira as conseqüências da crise : que a sociedade, como um todo, começou a comer aquilo que ainda não havia sido produzido. Quando inventou  o  crédito bancário na forma que aí está, o capitalismo não se deu conta que de que aquilo não teria fim, e começou a distribuir bens em troca de papeis que constituíam apenas uma promessa de pagamento, devidamente acompanhada, é claro, de copiosos juros, isto é, dinheiro imaginário.  -  Hoje nem papel se usa mais, apenas telas de computador, cruz credo! - E assim, quando os americanos foram procurar o seu “fried chicken”,  os alemães suas batatas, os italianos sua polenta e os franceses seu gruyere, só encontraram papel. E explicações melosas em telas de computador.

Mas disso tudo,  quem falou sério, mostrando coragem e bom humor, e escancarando a verdade, foi o economista francês Jacques Attali quando declarou que  “nos Estados Unidos as moratórias do setor privado já começaram e que um calote da dívida pública americana só não ocorrerá graças à impressão de dólares”. O que significa mais papel.  E disse mais: “ O mestre dos Estados Unidos não é nem Keynes nem Schumpeter,  é Madoff e sua capacidade de construir dívidas”.

Madoff, se vocês se lembram, não faz muito tempo, foi o espertalhão que deu um golpe de 65 bilhões de dólares no mercado financeiro americano.  Adotando um sistema de venda de quotas de fundos em forma de pirâmide,  criado por um tal de Ponzi, um imigrante italiano que teve muito sucesso nisso até ir para a cadeia,  Madoff  arrecadou dinheiro no mundo inteiro, até a pirâmide ruir. Foi condenado a 150 anos de prisão como se o fato de cumprir a pena na sepultura pudesse restituir o dinheiro que roubou dos incautos.
“E la nave va” ...  como diria Felini.

Mas eu ia falar da televisão, e a rima me atrapalhou. Agora acabou o papel. Não faz mal, fico devendo. Como nas moratórias.

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