07 fevereiro 2011

A flor que caiu do céu

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Memórias.  Sempre memórias. Para que servem? Por que as contamos? Para quem as contamos?  Se eu tivesse  resposta para essas perguntas, eu jamais  as escreveria.  Memórias!  Com algumas nos sentimos glorificados. Com outras, envergonhados. Muitas nos rejuvenescem - Picasso dizia que  “levamos muito tempo para ficar jovens”.  Outras apenas nos mostram o peso da senilidade. Contamos verdades. E quem acredita nelas?

Eu não havia ainda completado  sete anos de idade quando caminhava com minha mãe pela calçada da Avenida Guilherme Cotching, na Vila Maria, o então bairro proletário encarapitado no topo do morro que dá continuação à várzea direita do Rio Tietê. A avenida está lá até hoje, com o mesmo nome ridículo. As caminhadas com minha mãe eram sempre longas. Minha mãe caminhava com rapidez . Eu me arrastava lentamente, sempre cansado. Em dado momento, vendo que eu me atrasava,  deteve-se e, virando-se para mim, fulminou-me com seu olhar meigo:
-- Anda depressa, Gino!
Nesse exato momento, a um passo do lugar onde ela se detivera, e na mesma direção, desabou um enorme vaso de barro, espatifando-se no chão,  espalhando  terra e margaridas por todos os lados.
Minha mãe passou o resto da vida contando que a minha lentidão lhe salvara a vida.
                                                                          

Um comentário:

  1. Gostei do título. Dá uma impressão inversa ao que ocorreu.

    E me identifiquei com o texto. De casos assim que ocorreram comigo é que costumo dizer que meu anjo da guarda tem pós-graduação.

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